sábado, 6 de outubro de 2007

Enfim, para a minha surpresa (3/3)

Não fui capaz de perceber qualquer tipo de dúvida, medo ou negativa de sua parte. Parecia que só eu temia, que só eu achava que algo estava prestes a acontecer. Despedimo-nos com um beijo.

Voltei para casa tensa e exausta. Chorei até a hora de buscá-la na escola. Insisti num pouquinho a mais de corretivo, blush e batom. O rosto deveria estar perfeito e as faces, levemente ruborizadas. Assim, eu ficaria com um ar de saúde e satisfação – que estava longe de sentir.

O sol começava a sumir quando estacionei, esperando pacientemente pelo final das aulas. Imaginava a frustração estampada em seu rosto e temi que ela não quisesse voltar no dia seguinte. Reconsiderei, quando me dei conta do sorriso que iluminava seu rostinho e do caminhar firme em minha direção.

- Oi, filha! Tudo bem com você?

- Tudo, mãe.

Arrisquei, com certo desconforto:

- O que você achou da escola? Estava aqui olhando os seus colegas e fiquei impressionada. Como eles são comprometidos!

E ela:

- É. São mesmo. Mas eles também são umas gracinhas, mãe. Me adoraram. Conversaram bastante comigo e são muito carinhosos.

- Engraçado. Achei-os muito piores do que você. Todos eles conseguem conversar?

- Claro que não, mãe! Tem uma menina que nem fala nada, coitadinha. Ela puxa os cabelos e grita, mas não sai do lugar. Só melhora quando alguém a acalma e solta suas mãos do cabelo.

Eu continuava escutando:

- Também tem um rapazinho lindo, que passa o tempo todo de pé. A carinha dele é fofa e ele está sempre sorridente. E os três downzinhos, então? Ficaram grudados em mim o tempo todo.

- É mesmo?

- É! E tem a Mariana, que não escuta nada, então ninguém fica com ela, tadinha. Sentei do seu lado e fiquei segurando sua mão. Ela adorou. Aí, as professoras colocaram uma música pra gente e eu resolvi tirar os meninos pra dançar. Eles acharam o máximo e querem mais amanhã. Vou levar meus CD’s.

Senti um leve arrepio no cocuruto, e disse:

- Ô, filha, eu estou tão preocupada... Será mesmo que essa escola vai ser boa pra você?

- Claro que vai, mãe. Eu não sei por que você está tão preocupada. Eu estou adorando! Afinal de contas, mãe, eu estou no meu ambiente. Pensa bem nisso.

Naquela noite, eu dormi agradecendo a Deus, que se apiedara de mim com a mensagem que eu aguardava com tanta urgência.

Amém!

3 comentários:

Grilinha disse...

Foi certamente uma decisão muito dificil. Eu não sei se a teria tomado. Mas por vezes a vida indica-nos caminhos e nós temos de parar, sentir, respirar...e actuar conforme a nossa intuição. Algo dificil de explicar. Mas que todos sentimos. Não é a razão, mas o coração. Beijos

Anônimo disse...

Oi Eliana

Como você foi corajosa! Mas nossos filhos nos ensinam a buscar essa coragem nem sabemos de onde!
Se você nao se importar gostaria de saber que idade ela tinha nessa época?
Vou continuar te acompanhando e muito obrigada pela visita ao meu blog, nao tenho o seu talento (snif), meu blog é mais para registrar esse momento de nossas vidas longe do nosso Brasil. Mas volte sempre que puder!

Beijos,
Gi

Graziela disse...

Eliana parabens pelo blog e pelo amor incondicional que vc demonstra nos seus relatos.
Adoro ler e quando vi a indicacao no blog do "Desabafo de Mae" nao resisti e aqui estou eu, te acompanhando.
Voce e' uma grande mulher e uma excelente mae, com certeza seus filhos tem muito orgulho de vc, especialmente a Carlota.
Forca na caminhada
Graziela