segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sonho e Fantasia (1/4)

Ela já estava me azucrinando com aquela história de desfile. Era fatal! Mas também era culpa dos “Aflitos do Anchieta”. Faltava um mês para o carnaval e eles já estavam em plena campanha. Ensaiavam todas as noites na esquina lá de casa.

Aos primeiros batuques do surdo, Carola escancarava a janela do quarto, espichando o pescoço para enxergar um pouco mais. Era isso e os recorrentes chiliques, até que alguém se cansasse das suas chorumelas e a levasse até lá.

Há dias ela vinha ensaiando novos passos apartamento afora, preparando-se mais uma vez para o desfile em Rio Novo. Deitava e acordava com a mesma ladainha: a encomenda da fantasia – seu passaporte para a materialização do sonho de desfilar numa escola de samba.

Como ninguém consegue ficar indiferente ao espelho, Carola passava um bom tempo na frente dele, avaliando o poder da própria imagem. Caras, bocas, sacolejos e braços em movimento pontuavam aquele seu estilo próprio e esfuziante de ser. Ainda em dúvida, enviesava o corpo sinuoso de um lado para o outro, avaliando a silhueta enxuta.

O piso arranhado do banheiro denunciava o tempo gasto no delirante sapateado. Azar pra lá, dizia a si mesma. O que importava é que ela estava definitivamente satisfeita com seu charme encantador e seu grande potencial para passista. Agora era só esperar pelo grande dia, aproveitando daqui e dali alguma rebarba momesca. E haja expectativa e noites mal dormidas!

3 comentários:

Grilinha disse...

Olha, que vaidosa...
E porque não?

Estou ansiosa por conhecer mais detalhes desta história.

Um beijo...

Anônimo disse...

Eu já disse que sou fa dessa sua menina, né? É incrível como ela nao se fecha e se envolve com tudo!
Sabe Eliana, a minha cunhada (irma do meu marido) que hoje tem 42 anos foi criada numa "redoma", como eles moravam no interior, nunca descobriram o que ela tinha, ela aprendeu a ler e se comunica relativamente bem, mas tem pânico de sair de casa e um certo atraso mental. No entanto minha sogra sempre a super protegeu, tirando-a da escola e hoje ela fica o tempo todo em casa, vendo TV e folhando revistas, uma vida totalmente sem sentido... mas se você perguntar qualquer coisa, até mesmo de política, ela sabe! Um desperdício! Por isso te admiro muito por nunca ter limitado a Carola e vibro quando você conta dessas "aventuras" dela.
Parabéns por ser assim!
Beijo,
Gi

Anônimo disse...

Sua filha é incrível ! Parabéns por conduzi-la assim. Bjs. Simone/SP